ACORDE

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

 

Ao Léo

 

Há um resto de uma múltipla existencialidade nessa tarde,

frascos contínuos se decaindo,

- como gotas sobre um piano -

em indecentes posições poéticas inabitáveis,

na fragrância de um lapso,

na perplexa palidez da aparecia.

Á mil horas atrás um poeta que amava as cordas usou elas

para seu último delírio, e nós, chocados com a música,

nos tornamos rádios ambulantes,

sintonizadas ao mesmo tempos com a freqüentes lembranças

ultra contínuas do amanhecer...

 

 

 

Por: João Leno Lima

05-12-2011

Uivo

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

    Eu vi os expoentes de minha geração destruídos pela loucura,

      morrendo de fome, histéricos, nus,

    arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada em busca

      de uma dose violenta de qualquer coisa,

    "hipsters" com cabeça de anjo ansiando pelo antigo contato

      celestial com o dínamo estrelado da maquinaria da noite,

    que pobres, esfarrapados e olheiras fundas, viajaram fumando

      sentados na sobrenatural escuridão dos miseráveis aparta-
      mentos sem água quente, flutuando sobre os tetos das
      cidades contemplando  jazz,

    que desnudaram seus cérebros ao céu sob o Elevado e viram

      anjos maometanos cambaleando iluminados nos telhados
      das casas de cômodos,

    que passaram por universidades com os olhos frios e radiantes

      alucinando Arkansas e tragédias à luz de William Blake
      entre os estudiosos da guerra,

    que foram expulsos das universidades por serem loucos e publi-

      carem odes obscenas nas janelas do crânio,

    que se refugiaram em quartos de paredes de pintura descasca-

      da em roupa de baixo queimando seu dinheiro em cestas
      de papel, escutando o Terror através da parede,

    que foram detidos em suas barbas públicas voltando por Laredo

      com um cinturão de marijuana para Nova York,

    que comeram fogo em hotéis mal-pintados ou beberam tereben-

      tina em Paradise Alley, morreram ou flagelaram seus tor-
      sos noite após noite

    com sonhos, com drogas, com pesadelos na vigília, álcool e cara-

      lhos e intermináveis orgias,

    incomparáveis ruas cegas sem saída de nuvem trêmula e clarão

      na mente pulando nos postes dos pólos de Canadá &  Pa-
      terson, iluminando completamente o mundo imóvel do
      Tempo intermediário,

    solidez de Peiote dos corredores, aurora de fundo de quintal
             com verdes árvores de cemitério, porre de vinho nos te-
             lhados, fachadas de lojas de subúrbio na luz cintilante de
    neon do tráfego na corrida de cabeça feita do prazer, vi-
             brações de sol e lua e árvore no ronco de crepúsculo de
             inverno de Brooklin, declamações entre latas de lixo e a
             suave soberana luz da mente,
    que se acorrentaram aos vagões do metrô para o infindável

      percurso do Battery ao sagrado Bronx de benzedrina até
      que o barulho das rodas e crianças os trouxesse de volta,
      trêmulos, a boca arrebentada e o despovoado deserto do
      cérebro esvaziado de qualquer brilho na lúgubre luz do Zôo-
      lógico,

    que afundaram a noite toda na luz submarina de Bickford's,

      voltaram à tona e passaram a tarde de cerveja choca no
      desolado Fugazzi's escutando o matraquear da catástrofe
      na vitrola automática de hidrogênio,

    que falaram setenta e duas horas sem parar do parque ao apê ao

      bar ao hospital Bellevue ao Museu à Ponte de Brooklin,

    batalhão perdido de debatedores platônicos saltando dos gra-

      dis das escadas de emergência dos parapeitos das janelas
      do Empire State da lua,

    tagarelando, berrando, vomitando, sussurando fatos e lembran-

      ças  e anedotas e viagens visuais e choques nos hospitais e prisões e guerras,

    intelectos inteiros regurgitados em recordação total com os

      olhos brilhando por sete dias e noites, carne para a sinago-
      ga jogada na rua,

    que desapareceram no Zen de Nova Jersey de lugar algum dei-

      xando um rastro de cartões postais ambíguos do Centro
      Cívico de Atlantic City,

    sofrendo amores orientais , pulverizações tangerianas nos ossos

      enxaquecas da China por causa da falta da droga no
      quarto pobremente mobiliado de Newark,

    que deram voltas e voltas à meia-noite no pátio da estação fér-

      roviária perguntando-se onde ir e foram, sem deixar cora-
      ções partidos,

    que acenderam cigarros em vagões de carga, vagões de carga,

      vagões de carga que rumavam ruidosamente pela neve
      até solitárias fazendas dentro da noite do avô,

    que estudaram Plotino, Poe, São João da Cruz, telepatia e

      bop-cabala pois o Cosmos instintivamente vibrava a seus
      pés em Kansas,

    que passaram solitários paelas ruas de Idaho procurando anjos

      índios e visionários,

    que só acharam que estavam loucos quando Baltimore apareceu

      em êxtase sobrenatural,

    que pularam  em limusines com o chinês de Oklahoma no impul-

      so da chuva de inverno  na luz da rua da cidade pequena
      à meia-noite,

    que vaguearam famintos e sós por Houston procurando jazz

      ou sexo ou rango e seguiram o espanhol brilhante para
      conversar sobre América e Eternidade, inútil tarefa, e
      assim embarcaram num navio para a África,

    que desapareceram nos vulcões do México nada deixando

      além da sombra das suas calças rancheiras e a lava e a
      cinza da poesia espalhadas na lareira de chicago,

    que reapareceram na Costa Oeste investigando o FBI de barba e

      bermudas com grandes olhos pacifistas e sensuais nas suas
      peles morenas, distribuindo folhetos ininteligíveis,

    que apagaram cigarros acesos nos seus braços protestando contra

      o nevoeiro narcótico de tabaco do capitalismo,

    que distribuíram panfletos supercomunistas em Union Suare,

      chorando e despindo-se enquanto as sirenes de Los Alamos
      os afugentavam gemendo mais alto que eles e gemiam
      pela Wall Street e também gemia a balsa da Staten Is-
      land,

    que caíram em prantos em brancos ginásios desportivos, nus e

      trêmulos diante da maquinaria de outros esqueletos,

    que morderam policiais no pescoço e berraram de prazer nos

      carros de presos por não terem cometido outro crime a não
      ser sua transação pederástica e tóxica,

    que uivaram de joelhos no Metrô e foram arrancados do telha-

      do sacudindo genitais e manuscritos,

    que se deixaram foder no rabo por motociclistas santificados e

      urraram de prazer,

    que enrabaram e foram  enrabados  por estes serafins humanos, os

      marinheiros, carícias de amor atlântico e caribeano,

    que transaram pela manhã  e ao cair da tarde em roseirais, na

      grama de jardins públicos e cemitérios, espalhando livre-
      mente seu sêmem para quem quisesse vir,

    que soluçaram interminavelmente tentando gargalhar mas acaba-

      ram choramingando atrás de um tabique de banho turco
      onde o anjo loiro e nu veio atravessá-los com sua espada,

    que perderam seus garotos amados para as tres megeras do destino,

      a megera caolha do dólar heterossexual, a megera caolha que pisca de dentro do ventre e  a megera caolha que só sabe ficar plantada sobre sua bunda retalhando  os dourados fios do tear do artesão,

    que copularam em êxtase insaciável com uma garrafa de cerveja,

      uma namorada, um maço de cigarros, uma vela, e caíram da cama e continuaram pelo assoalho e pelo corredor e terminaram desmaiando contra a paerede com uma visão da buceta final  e acabaram sufocando um derradeiro lampejo de consciência,

    que adoçaram trepadas de um milhão  de garotas trêmulas

      ao anoitecer, acordaram de olhos vermelhos no dia seguin-
      te mesmo assim prontos para adoçar trepadas na aurora, bundas luminosas nos celeiros  e nus no lago,

    que foram transar em Colorado numa miríade de carros roubados

      à noite, N.C. herói secreto destes poemas , garanhão
      e Adonis de Denver - prazer ao lembrar de suas incontáveis
      trepadas com garotas em terrenos baldios e pátios dos
      fundos de restaurantes de beira de estrada, raquíticas filei-
      ras de poltronas de cinema, picos de montanha, cavernas
      ou com esquálidas garçonetes no familiar levantar de saias
      solitário  á beira da estrada & especialmente secretos solip-
      sismos de mictórios de postos de gasolina & becos da cidade
      natal também,

    que se apagaram em longos filmes sórdidos, foram transportados

      em sonho, acordaram num Manhattan súbito e consegui-
      ram voltar com uma impiedosa  ressaca de adegas de
      Tokay e o horror dos sonhos de ferro da Terceira Aveni-
      da & cambalearam até as agências de emprego,

    que caminharam a noite toda com os sapatos cheios de sangue

      pelo cais coberto por montões de neve, esperando que
      se abrisse uma porta no East River dando num quarto
      cheio de vapor e ópio,

    que criaram grandes dramas suicidas nos penhascos de aparta-

      mentos de Hudson à luz de holofote anti-aéreo da lua &
      suas cabeças receberão coroa de louro no esquecimento,(...)

Em mémoria de Léo – 28 de Novembro de 2011

ZINE – ARTE É FATO (QUARTA EDIÇÃO EM PDF)

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

lourenco-mutarelli

IMAGEM/ LOURENÇO MUTARELLI

ARTE É FATO >Zine

<mantido por Leila Leite e João Leno Lima

com textos de suas próprias autorias, arquivos rizomáticos, resenhas de música, poesias e entrevistas com artistas de Belém e regiões metropolitanas e outros delírios.

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PELA NÃO DIVISAO DO PARÁ

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Por: Cybernic

 

Ser um país continental tem suas desvantagem, quando isso serve de desculpa política para explicar a péssima distribuição de renda e o descaso com que a esmagadora população é tradada na maioria dos estados da federação.

 

O Estado do Pará pode ser chamado de um estado continental, são quase 150 municípios, terra farta porém de um povo pobre, carente, abandonado, quando sua região não traz nenhum atrativo de investimento - digo - interesses financeiros.

Em maio de 2011, a câmara dos deputados aprovou a autorização do plesbicito sobre a  divisão do estado.

 

Dividir o estado resolverá os problemas de distribuição de renda, conflitos de terras, impunidade exacerbada, trabalho escravo, violência, entre outras graves problemas do estado?

 

Minha resposta é NAO.

 

É preciso estar ciente primeiro. É notório que o estado sofre com um grande problema em âmbito nacional, a corrupção. É preciso confessar também que os governos tem se mostrado elitistas, propagandistas e limitados nesses anos e que a população - mesmo num estado ricos de terras, minerais, com grande possibilidade de turismo (se houvesse uma politica mais inteligente e menos oportunista quanto a isso) com forte peso cultural no país, mesmo assim, seja uma terra onde reina a ausência do básico para qualquer ser humano viver.

 

Acreditar que divisão do Pará, trará benefícios - como a melhoria da distribuição de renda - é ingênuo com relação a lógica do capital e a cultura da corrupção desse país. A divisão do estado (Carajás, tapajós) so interessa a uma determinada classe politica. A burguesa política vigente que festejará mais dinheiro entrando em seus bolsos abarrotados. Será como repartir metade de um bolo de um grande banquete e somos nós (Paraenses) o prato principal.

 

Ingenuidade explorada que também deve ser a tônica da campanha Pró separação. A população dessas regiões certamente ouvirá argumentações como que a divisão melhorará as infra estruturas das suas cidades, haverá mais dinheiro da união, mais geração de prego, menos...desigualdade.

Uma falácia sem tamanho. Seguindo essa lógica, estado como Acre ou Sergipe (o menor estado do Brasil) seriam os mais ricos e na verdade, são exemplos contrários. A falta de reformas políticas, previdenciária, agrária, com investimentos robustos em educação, seria (talvez) capaz de romper com essa rasga mortalha cultural que é a politica feita nesse país.

 

É preciso a população entender: O estado - como administrador - falhou, a população falhou - como conivente e comprada - partidos e ideologias são meras caricaturas do que um dia se pensou que poderiam ser - portas de entrada para discussões sérias - a divisão do Pará não mudará o curso desigual do capitalismo e a lógica do lucro que tem na medíocre distribuição de renda dos estado uma sombra cotidiana. Mesmo com uma natureza exuberante,  a natureza sua - como unidade federativa - é uma lástima.

 

NÃO A DIVISÃO E SIM AS REFORMAS JÁ

Marituba – Arte e fatos

quinta-feira, 28 de julho de 2011

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No mês de Junho, em Marituba, houveram os lançamento de dois importantes livros para o expoente atual da poesia da cidade. "Resíduo de Relógio" do Poeta Antônio Marcelo e "Semblantes" de Gilmar Galvão.

 

Para entender a importância histórica dos trabalhos é preciso olhar com sensibilidade para a produção atual de uma cidade carente de incentivos, periférica em sua estrutura e com graves problemas sociais. Marituba, que em sua historia, parece ter vocação para a manifestação artística, vem, ao longos dos ultimos anos, nos dando importantes, gratificantes e pontuais provas, que não se rende.

 

Trabalhos como a compilação de poetas "Frutos Colhidos com mãos de chuva" mostram que a inciativa em mudar a cara da inércia artística da cidade ainda encontra expoentes. Grupos como o "POEMA" e o "Uivo" evidenciam, no mínimo, o desejo de continuar a fazer...Arte.

 

Muita coisa ainda precisa ser feita, a produção cultural da cidade, como a Editora "Uivo", uma iniciativa de dar nomes as produções artesanais de alguns poetas e o apoio entre tribos distantes (com a eterna miscigenação entre grafiteiros, músicos e loucos) mostra que mesmo rudimentar em estrutura, Marituba ainda produz e acontece, como uma chama distância que seduz o olhar e atraí sedutoramente quem se deixa encantar.

VAGALUMEANDO

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Por: Júlio Siqueira

 

Num instante solitário entre montanhas e estradas desertas, vou me debatendo chamando isso de segundos.

Atravessando os longos e frios descampados, pelos túneis das tardes, onde pequenas gotas de memórias são capazes de mergulhar as mais ocultas palavras.

 

o ser humano suspira, agarra-se em invisíveis constelações, na matéria e no imaterial delírio, depois o declínio da perda, a dor de parto pela saída, não do feto mas da lastimante concentração de afeto com o que se perdeu.

No distante olhar superficial das coisas, apenas podemos lamentar, mas, no núcleo visceral onde provavelmente está a alma - intacta - há milhes de vulcões que se cuspissem todos os sentidos, sentiríamos por toda a eternidade - tudo – ao mesmo tempo.

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POEMAS PARA O LIVRO

ONÍRICO PERCURSO POR DENTRO DO MOVIMENTO”

SAMPLER

segunda-feira, 18 de abril de 2011

De: Júlio Siqueira

 

 

 

Na contramão de cada percurso distingue-se devaneios e extremidades,como loucos procurando a saída num barco naufragado,mas com o mar a volta para lembrar do longo caminho; desejamos por ventura que não houvesse obstáculos mas, uma vida num deserto evitaria a presença movediça dos fantasmas?

 

Calo sobre o espiral do olhar dos outros, observo a estranha boca cheia de razões dos meus amigos,seus padrões de vidas anti-redomas,vitrines para longos modelos de invulnerabilidades prodigiosas.

 

Mas num vento contrário, que racha o leme e parte o remo do tratado do equilíbrio, acudimos o espelho com longas massagens que gemem em Lagrimas, tanto para o assassino como para o anjo, a paz é desejada sedentamente, a diferença é o grau da estrada passageira.

 

Recolho-me, e os pés da multidão desviam-se como água ao redor da rocha,quero apenas o afago intrometido da paisagem recriada,minha insatisfação abre uma fissura na gravidade me expando junto aos universos.

 

 

Poema para o livro

“Onírico Percurso por dentro do movimento” de Júlio Siqueira

Videoart: Olhar

De João Leno Lima

21 MIL SENTIDOS

sexta-feira, 15 de abril de 2011

De: Júlio Siqueira

E então, que quereis?...

 

Se sou redemoinho és estático e sem ar,

se sou água és deserto,

se sou nuvem és céu azul cinza,

se sou poeta és a página vazia...

E então, que quereis?...

se atravesso os descampados, foges pelo mar,

se corro nas rodovias ensurdecedores, vais de bicicletas pelas trilhas imperfeitas,

se mergulho em Grutas oníricas, sentas sobre a rocha na ponta das montanhas íntimas...

E então, que quereis?...

se morro, renasce,

se sobrevivo estais prestar a desfalecer,

se assola-me a febre, em ti abraça-te o calor do sol das manhãs,

se naufrago, te atolas,

E então, que quereis?...

Se dialogo, gritas

se grito silencia com passos distantes,

se distancio torna-te frio,

se esfrio, afunda no esquecimento,

se permaneço quem eu sou, nao mudas,

se por alguns instantes convergimos

foi como linhas se cruzando

antes de se tornarem imaginárias

na memória volúvel do tempo.

 

POEMAS PARA O LIVRO

“ONÍRICO PERCURSO POR DENTRO DO MOVIMENTO” de Júlio Siqueira

Livro (PDF) – DIALOGO IMPOSSIVEL de João Leno Lima

quinta-feira, 14 de abril de 2011

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TODOS OS POEMAS ESCRITOS POR JOÃO LENO LIMA ENTRE 2005 E 2007.